Não existe dor gostosa
Nasci em São Paulo, em 1949. Dizem que eu não queria sair da barriga da minha mãe, tanto que precisaram me puxar de lá com um fórceps. Desde então, tive assaduras, sapinho, brotoejas, sarampo, coqueluche, catapora, caxumba e ainda fui operado das amígdalas.
Sofri com nariz entupido, mordida de cachorro, dor de barriga, febre, sabonete no olho, furúnculo, cortes, arranhões e dente cariado. Já quebrei a perna jogando bola e também os dois braços depois de cair de um telhado. Uma vez, fui andar no mato, mexi no galho errado e conheci a picada do marimbondo. Dói pra chuchu.
Também tive conjuntivite, gripes mil, frieiras, queimaduras, bronquite asmática, aftas, inflamação na garganta, levei soco no olho, beliscões, cascudos e caneladas, senti coceiras estranhas, espremi o dedo na porta, soltei gases inesperados, tomei coice de cavalo, choque elétrico e pedrada na cabeça, sem falar numa apendicite aguda — isso que eu me lembre.
Tive ainda rinite alérgica. Não podia ver pó que já ficava com o nariz pingando e coçando. Um dia, resolvi ir ao cinema assistir um filme de caubói. Estava tudo bem. De repente, me aparece na tela um monte de índios a cavalo no meio do deserto, berrando e levantando o maior poeirão. Meu nariz quase explodiu. Saí do cinema encafifado.
Acho que por causa de tudoisso tive a idéia de escrever um livro sobre doenças. Experiência eu garanto que tenho.