No meio da noite escura tem um pé de maravilha

Ática | 2002

Este belo livro reúne dez contos folclóricos que circulam em nosso país, recontados e ilustrados por Ricardo Azevedo.

Como quem conta “causos” ao pé do fogo ou na cozinha de uma casa brasileira, em volta da mesa e tomando café, as histórias são narradas em linguagem coloquial, próxima ao leitor.

Em “Moço bonito imundo”, um rapaz faz um trato com o Coisa-Ruim concordando em ficar sem se limpar, enrolado numa capa de pele de animal por sete anos para conseguir, então, ser livre e rico.

“A mulher dourada e o menino careca” fala de uma criança criada por uma misteriosa mulher encantada que vivia num castelo escondido embaixo da terra. Ao desobedecer a ordem de não abrir as arcas guardadas pela mulher dourada, o menino acabou provocando mudanças irreversíveis em suas vidas.

“O príncipe encantado no reino da escuridão” fala de uma menina que, maltratada pela madrasta e suas filhas, consegue escapar dos maus tratos e, graças à sua bondade, recebe ajuda do Príncipe Encantado do Castelo de Ferro do Reino da Escuridão.

“Coco Verde e Melancia” são pseudônimos usados em cartas por um casal apaixonado que enfrenta a proibição de namoro feita pela família da moça usando inteligentes estratagemas, conseguindo, finalmente, desfazer mal-entendidos e casar-se.

“A mulher do viajante” conta a história de um viajante enganado por uma bruxa, que o faz acreditar que sua mulher não lhe era fiel e da inteligente solução encontrada para este conflito por sua esposa. O conto

“Os onze cisnes da princesa” retoma um tema presente nos contos de fadas de origem européia: a transformação de irmãos em cisnes e os desafios enfrentados pela irmã caçula para livrá-los deste encantamento.

Em “O filho do ferreiro e a moça invisível”, um rapaz é obrigado pelo rei a entrar num misterioso buraco que ninguém conseguia fechar e voltar para contar o que existia lá dentro. É assim que ele consegue desfazer o feitiço que havia tornado invisível a filha do monarca, que vivia presa ali.

“Dona Boa-Sorte e mais dona Riqueza” são duas personagens que disputam qual delas é a mais poderosa.

“As três noites do papagaio” conta as artimanhas feitas por um rapaz, com a ajuda de uma velha feiticeira, para conseguir ficar com uma bela moça, já casada com um vendedor ambulante.

“O filho mudo do fazendeiro” conta o estratagema usado por uma jovem para conseguir fazer com que um rapaz, que vivia deitado numa cama sem nunca dizer uma palavra, voltasse a falar.

Estas sábias e divertidas histórias, depuradas por séculos de circulação de boca em boca ou, como agora, de livro em livro, apresentam enredos inteligentes e envolventes que, além de resgatar o imaginário popular brasileiro, revelam uma qualidade que é característica dos contos de tradição oral: a reflexão sobre a vida e suas dificuldades, o ensinamento ético, a representação das qualidades humanas sem que, com isso, esta literatura se limite a recados didatizantes ou em pretexto para lições de bom comportamento.

As ilustrações retomam a brasilidade da linguagem utilizada e os componentes da cultura popular das histórias, enriquecendo sua leitura. Como nos conta o autor, “quem canta seu mal espanta/quem quem chora não se contenta/quem conta histórias se encanta/quem não conta se arrebenta!”

Para ler, contar e recontar a crianças, jovens e adultos.

(Maria Silvia Pires Oberg apud Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil – São Paulo – V.13 – P. 1-327 – 2002 Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato)